Champs e o Pecado Original

No princípio criou Deus os céus e a terra, depois veio a luz, as águas, os animais e, infelizmente, os mosquitos. A coisa tava meio bagunçada, todo mundo mandava, uma zona, aí veio a idéia de criar o homem, um tal de Adão. O cara era bacana, sarado, sem peneuzinhos e tal. Seu único problema era ter a pele cor de rosa. Aí Deus pensou: “Pô, rosinha até pode rolar pra homem, mas só em alguma roupinha de treino de um esporte que Eu ainda tenho que inventar”. Percebendo a necessidade de diversificar o DNA humano, Deus lançou mão de sua criatividade e criou a mulher, a bela Eva. Era uma companheira bacana, também sarada, organizada e que permitiria a extensão do mix de produtos, gerando gente de várias cores e raças. Mas Deus, que sempre teve uma visão de jogo muito melhor que a do Silas, percebeu que a disciplina deveria ser implantada de cara, antes do jogo começar: “Adão, de toda árvore podeis dar um “teco”, menos dessa aqui, valeu?” Ordem dada, ordem acatada. Só que pintou na pequena área uma super minhoca, o primeiro corneteiro da história do planeta terra. Chegou na Eva e mandou ver: “Espia, só... tudo papo furado, guria. Vai por mim, se comeres essa frutinha tu vai sê musa de torcida toda ano, não tem?”. Eva comeu o fruto e ofereceu a Adão. Adão ficou meio ressabiado, mais caiu de boca também.

Quem pecou?

Ahá, eu sei que você pensou o mesmo que a maioria: a mulher, claro. Volte um pouquinho. Para quem foi dada a ordem? Sim, seu cabeça de berbigão, meu querido blogonauta machista, foi para o homem. Ele era o único responsável, pois a ordem foi dada a ele e apenas ele tinha a informação. No princípio da relação comercial entre Avaí e Champs estava tudo indo muito bem. Acordos selados, promessas firmadas e ambas aceitaram ir se conhecendo aos poucos. A pista para que os olhos se abrissem foi dada já na entrega do primeiro lote do material esportivo. São inúmeros os relatos de escudos tortos, linhas soltas, tecido de baixa qualidade, números se descolando e por aí vai. A outra pista foi o atraso de três meses na entrega do material em 2008. Poderíamos esperar coisa diferente em 2009? Sim, poderíamos, mas só se houvesse intervenção divina. Mas Deus tem mais o que fazer e por isso chegamos a abril sem ver o uniforme n°1, aquele mesmo que tem o escudo torto na frente e as listas desbotadas trás. Até hoje o Brasil não sabe qual é o uniforme oficial do Avaí FC. Estamos jogando direto como uma camisa toda branca, que sempre foi o nosso uniforme nº 2.

Problemas por toda parte

Você pode pensar que é perseguição com o Avaí, mas não é não. Esse drama acontece por todo o país e não é de agora. Vamos aos fatos:

Náutico - O lançamento dos novos uniformes do Náutico aconteceu no início desta temporada, mas, os torcedores não estão encontrando os produtos alvirrubros na loja oficial do clube, a Timbushop. De acordo com a diretoria alvirrubra, isso acontece porque a fornecedora de materiais esportivos está deixando a desejar no abastecimento da loja, tanto no quesito uniformes quanto em relação aos produtos licenciados pela marca do Náutico.

Ponte Preta - Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Márcio Della Volpe, diretor de marketing da Ponte, explicou que as lojas da região estariam vazias, e que o próprio clube teve de começar os treinamentos com materiais da Diadora, antiga parceira. "Na prática, nós rompemos porque tínhamos um acordo para a Ponte e as lojas da região, que geram royalties para nós. Só que estávamos tendo muitos problemas. A comissão técnica usava roupa da Diadora, por exemplo. A roupa de treino chegou só no começo de fevereiro. E nós achamos melhor rompermos", disse o dirigente.

Vasco - A paciência do Vasco com a Champs não deve durar mais do que uma semana e tem tudo para terminar num rompimento de contrato. Nesta sexta-feira, termina o prazo para a fornecedora de material esportivo pagar a terceira parcela de R$ 550 mil, mas até agora o clube só recebeu a cota de fevereiro e menos de um terço do valor de março. Os lojistas não conseguem abastecer as prateleiras e os uniformes chegam com atraso também ao clube. Quem torce pela rescisão do contrato são os jogadores, que consideram os artigos de baixa qualidade. A principal queixa é com o meião, que teima em deslizar canela a baixo.

Conclusões

Para nós simples mortais é fácil apontar a Champs como a vilã dessa historinha de faz-de-conta-que-eu-te-entrego, pois quem produz e entrega o objeto-tema desse post é ela. Penso que é uma empresa que talvez faça o melhor que pode, e o melhor é isso aí. Também seria muito cômodo decretar o Avaí como sendo o “homem” desse pecado fabril. Mas tal como acontece em qualquer empresa, fatores diversos fazem com que uma situação desagradável precise ser mantida mesmo que a contragosto. Há contratos diretos, indiretos, relacionamentos que precisam ser mantidos, negócios futuros, enfim, não é tão simples assim dizer que o Avaí se permite ser enrolado por uma “super minhoca” de materiais esportivos. Mas há coisas que podemos afirmar sem medo nenhum de sermos excomungados: . esse não é o uniforme do Avaí . é impossível que não haja uma cláusula de quebra de contrato ou multa por atraso na entrega dos produtos . independente de quem produzir o uniforme para a Série A, o produto deve ter a qualidade mínima que se espera de um time de Série A.

Essa novela já extrapolou todos os limites de elasticidade sacal da torcida avaiana. Não é possível que nada esteja sendo feito para resolver essa pendenga. A nação azul precisa ter informações mais precisas sobre o andamento desse contrato. Diz-que que somos mais de 9.500 sócios, e como sócios gostaríamos de ser vistos. Creio que essa solicitação democrática de uma informação básica seja dada a nós, descendentes de Adão e Eva.

E pra terminar: eu odeio mosquitos.